Alguém me escreveu
É a primeira vez que me pego pensativo em um início de ano. A turbulência do que passou foi das mais tempestuosas, senão a mais. Tudo o que eu pedia era ser feliz e hoje eu só quero continuar com a minha liberdade. Os hálitos putrefatos dos bem-dizeres, em um curto intervalo de 2 meses (quase), foram afiados e penetrantes, como uma faca de dois gumes.
Eu fui ferido.
Senti na pele. O coração, coitado, é fraquinho. Quase não aguenta de tanta tristeza. Foi um grande descaso, escasso de empatia, ausente de verdade. Tudo foi um mistério, num conto de fadas. Ou um conto fantástico, fora da minha realidade. Meus lobos imaginavam e mentiam pros olhos, que enxergavam aquilo que o cérebro queria que acontecesse, mas não acontecia.
Eu estava cego. De amor. Da verdade.
Eu não sei se não queria enxergar, ou se a mentira era tão boa, que eu não queria que acabasse. Eu via o errado e falava. Não eram duas, três ou quatro vezes. Foram inúmeras. Incontáveis. E como um bobo apaixonado, eu perdoava e meu lobo frontal fingia imaginar uma mudança.
Mudança? Que mudança?
Foi aí que começou a dar errado. A estranheza tomou o lugar do afeto e eu me sentia agredido. A indagação era retornada com uma negação, e adicionada de um "está tudo bem".
Não. Não estava.
Eu não tinha direito a beijo. No máximo um selinho, um abraço e ver um sorriso. Ouvir um "amor". Ah, que dádiva. Eu me sentia abençoado. Na semana depois, caiu a maldição.
Eu terminei.
Estava cansado. Trabalhava, estudava, estágio, faculdadeestágiorelatórioprovademoradaextensatextossemanais E EU NÃO AGUENTAVA A INDIFERENÇA. Meus lobos entraram em pé de guerra. Os uivos eram altos e eu me sentia só. Depois a máscara caiu e eu enxerguei quem realmente era o tal antagonista. Eu dei o mundo, o meu mundo, mas fomos incompatíveis, porque já era mundo de outro, depois de o meu ter sido invadido.
Meu corpo teve reações.
Eu contorcia de dor. Eu implorava para morrer logo, porque eu sentia meu corpo inflamar. Era como se o ódio entrasse em erupção e corroesse cada um dos meus órgãos, mas eu não podia gritar. Minha família não merecia saber de tamanha vergonha e o que eu fiz pra chegar a este ponto. De permitir que alguém fosse capaz de me fazer mal a essa altura do campeonato.
Foram duas semanas engolindo gritos de dor, cuspindo fogo e pedindo por misericórdia a Deus, a quem sempre me apeguei. Eu não culpava meu corpo, ele reagia da forma que ele achava melhor.
A culpa era minha.
Eu me sinto culpado por ter fantasiado um amor mentiroso. Por ter deixado minha gastrite atacar, por ter deixado nascer bolhas no meu braço e por ter me deixado engordar.
Eu corria de espelho. Ridículo eu me via.
E a máscara continuava a cair. Eu fui traído. Traído da pior forma. Minha confiança foi jogada no lixo. Meu coração? Mastigado? Triturado? Não sei. Ele tá aqui, pelo menos, batendo. Bate rápido, outrora, mas normalmente ele bate.
Eu corri como criança aos meus amigos.
Ah, como eu amo meus amigos.
Por me amarem e me defenderem com unhas e dentes. Tomaram minhas dores e rugiam de raiva.
Queria poder retribuir o que cada um fez na minha vida, mesmo que um obrigado seja pouco, mas não consigo, ou chego perto de estar quite.
Estou convicto de que não estou no tempo de me doar pra alguém.
Eu não consigo flertar, acreditam? Olha o nível da desgraça. Eu não sei mais retribuir um elogio, não sei elogiar primeiro, não sei e não sei.
Mas eu num tô morto não, viu?
Um dia eu vou voltar. Voltar com tudo.
Mas eu estou me preferindo assim, na timidez e no silêncio. Assim eu me (re)conheço e me adapto.
O mundo é mau e eu sou só mais um desgarrado.
A minha necessidade não é mais o amor. Meus amigos já suprem essa minha carência. Minha insuficiência sou eu e eu sei que posso melhorar. Ser humano é isso. E é sobre isso. Inventar e reinventar.
E quando estiver pronto...
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Ir à praia e pegar uma conchinha |
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